Na imensa diversidade da culinária brasileira, há cortes de carne que conquistam espaço nas mesas mais sofisticadas e outros que permanecem, muitas vezes, relegados ao segundo plano, apesar de sua riqueza gastronômica. O dorso de frango, também chamado de “costas do frango”, pertence a este segundo grupo. Subestimado e até mesmo ignorado por quem busca apenas os cortes mais nobres, ele guarda um potencial surpreendente de sabor, tradição e memória afetiva.
Mais do que uma parte “secundária” da ave, o dorso carrega consigo uma herança cultural de aproveitamento integral dos alimentos e de valorização daquilo que parece simples, mas que pode resultar em experiências marcantes à mesa. A seguir, mergulhamos nesse universo para entender por que o dorso de frango merece sair do anonimato e ocupar seu lugar de honra na gastronomia brasileira.
Um corte com história e tradição
O hábito de utilizar todas as partes do frango não nasceu da abundância, mas da necessidade. Em diferentes regiões do Brasil, famílias inteiras aprendiam a transformar cada pedaço da ave em comida nutritiva e saborosa. O dorso, por ser um corte menos procurado nos mercados e açougues, acabava reservado para receitas de casa, aquelas que misturam simplicidade e engenhosidade.
Ao longo das décadas, o dorso se tornou presença constante em almoços familiares e em preparos que atravessam gerações. Não é raro ouvir relatos de avós e mães que utilizavam o dorso para dar mais corpo a caldos, sopas ou ensopados, realçando o sabor sem pesar no bolso. Dessa forma, o corte ganhou um papel simbólico: ele representa o espírito de uma cozinha que sabe fazer muito com pouco.
Economia e sustentabilidade na cozinha
Em tempos em que a sustentabilidade e o consumo consciente ocupam cada vez mais espaço nas discussões sobre alimentação, o dorso de frango ganha novo destaque. Aproveitar este corte é uma maneira de reduzir desperdícios e valorizar o animal por completo, evitando que partes menos comerciais sejam descartadas.
Do ponto de vista econômico, trata-se também de uma escolha inteligente. O dorso costuma ter um preço mais acessível em relação a outros cortes de frango, permitindo que famílias preparem refeições nutritivas sem comprometer o orçamento. Assim, ele se alinha à ideia de que boa gastronomia não precisa, necessariamente, estar ligada ao luxo, mas sim à criatividade e ao respeito pelos ingredientes.
Um ingrediente que atravessa fronteiras culturais
Embora no Brasil o dorso seja amplamente utilizado, ele também aparece em tradições culinárias de outros países. Na Ásia, por exemplo, é comum seu uso em caldos concentrados que servem de base para sopas e pratos complexos. Em cozinhas africanas, o corte é aproveitado em ensopados que combinam especiarias intensas e preparos comunitários.
Esse intercâmbio mostra como partes consideradas “menores” podem, na verdade, carregar o DNA da gastronomia de um povo. No caso brasileiro, o dorso de frango reforça a ligação entre a comida do dia a dia e o conceito de acolhimento. Afinal, reunir a família em torno de uma panela fumegante preparada com este corte é um ritual que transcende a alimentação e se transforma em experiência afetiva.
Memória afetiva e simbolismo
A comida tem um poder raro: o de despertar memórias. O cheiro de um assado saindo do forno ou o aroma de um caldo encorpado podem transportar alguém diretamente para a cozinha da infância. O dorso de frango, justamente por estar presente em preparos familiares e acessíveis, carrega esse potencial nostálgico.
Em muitas casas, ele não era apenas um corte de carne, mas uma oportunidade de partilha. Enquanto o frango era distribuído entre diferentes membros da família, o dorso tinha seus apreciadores fiéis, que sabiam que ali estava um sabor intenso e único. Essa relação íntima com a comida revela muito sobre a cultura brasileira, onde a simplicidade muitas vezes é sinônimo de sofisticação emocional.
O dorso no cenário gastronômico atual
Se por muito tempo o dorso de frango ficou restrito às cozinhas caseiras, hoje ele começa a conquistar espaço em restaurantes que valorizam a cozinha de raiz. Movimentos gastronômicos recentes, voltados ao resgate de técnicas tradicionais e ao uso integral dos alimentos, vêm colocando em evidência cortes antes esquecidos.
Chefs renomados passaram a enxergar no dorso não apenas um recurso econômico, mas uma fonte legítima de inspiração criativa. Ao utilizá-lo em seus cardápios, eles também desafiam preconceitos culinários e ajudam a reposicionar a ideia de que apenas os cortes considerados “nobres” merecem destaque.
Considerações finais
O dorso de frango é um daqueles tesouros escondidos na culinária brasileira. Subestimado por muito tempo, ele guarda em si uma combinação rara de sabor, nutrição, economia e tradição. Mais do que isso, representa um modo de cozinhar que valoriza a criatividade e a memória afetiva.
O Dorso de Frango
Ingredients
- 1 kg dorso de frango
- 3 dentes alho amassado
- 1 cebola picada
- 2 colheres azeite de oliva
- 1 colher sal
- 1 colher pimenta-do-reino
- 1 colher páprica doce
- 1 ramo alecrim fresco
- 1/2 limão (suco)
Instructions
- Lave bem os dorsos de frango e seque com papel-toalha
- Em uma tigela, misture o alho, cebola, azeite, sal, pimenta, páprica, alecrim e suco de limão.
- Tempere os dorsos de frango com essa marinada e deixe descansar por 20 minutos.
- Pré-aqueça o forno a 200 °C.
- Disponha os dorsos em uma assadeira untada e cubra com papel-alumínio.
- Asse por 30 minutos, retire o papel e deixe dourar por mais 15 minutos.
- Sirva acompanhado de arroz, farofa ou legumes assados.